terça-feira, 24 de março de 2009

Muletas

Ao longo da minha vida, nem tão longa assim, conheci todo tipo de gente, dos mais variados tipos de raça, cor e etnia.
Mas há um tipo específico de gente que quanto mais eu conheço, mais quero entender como funciona seu mundo.
É fascinante vê-los em ação. Seu poder de fé, oração, devoção e entusiasmo com tudo que diz respeito a sua crença me encanta. São os convertidos religiosos ou como alguns maledicentes chamam, os vira-casacas.
Não me incluo nesse 2º time que julga os outros esquecendo, por conveniência, seus próprios erros.
E sob um ótica mais racional somos todos carentes e desejosos de tamanha fé e invejosos, de forma velada e odiosa, de tal poder de crença.
Sim. Pois vê-los glorificar um Deus que tudo os proverá de forma incondicional e irremediável é intrigante.
De onde vem tanta certeza?
Ouvi de um amigo, há muitos anos atrás, que 2 fatores são primordiais para uma conversão: a dor e o amor.
Freud afirmava que o prazer e o horror movem o homem.
No caso de meu amigo foi a dor. Uma experiência de quase morte num acidente de carro o jogou, por assim dizer, nos braços sempre abertos de Deus nosso Senhor.
Todos que conheci se converteram pelo mesmo motivo: a dor. E estendendo seus tentáculos o desespero, a angustia, a depressão, o adicto das drogas, do álcool, do jogo, da comida, do sexo e tantas outras formas de vício que vitima homens, mulheres e não raramente crianças.

O que me faz questionar, onde está a famigerada misericórdia divina que não protege nossas crianças das perversidades do mundo?
Penso que em alguns casos certas pessoas vivem apoiadas em muletas.
São belas e saudáveis na aparência, mas lá no fundo, naquele lugar quase inóspito e confuso, que as vezes nem a gente tem coragem de entrar, estão sempre sustentadas por muletas.
Que quando se quebram, corroídas pelo dor precisam ser substituídas.
E felizmente são. Por algo mais duradouro e concreto que os tornam mais felizes ou menos auto destrutivos, quem sabe?
Qualquer que seja o motivo, de certo só a fé que move uma legião carente de esperança, ou tão cheia dela que a divide com seu próximo; sem cobranças ou condições.
Lamentável são as ervas daninhas que nascem nos lugares mais férteis, mais saudáveis, mais lucrativos.
Talvez como forma de nos lembrar que a batalha do bem contra o mal é eterna e cansativamente diária.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Sozinha e bem acompanhada!

Optei por ficar sozinha!
No começo achei que era de raiva, que poderia ser um teste pra saber como me sairia, que era uma decisão baseada na frustação e na mágoa de um casamento falido.
Mas incrivelmente descobri que posso e quero viver sozinha. Sou livre.
Amo a liberdade. Sempre amei. A gente sempre ama o que não pode ter. E eu nunca fui livre. Vivi presa a amarras que me prenderam a lugares, pessoas, compromissos.
Nunca soube o que era "chutar o pau da barraca", ligar o botão do foda-se, simplesmente botar a mochila nas costas e sair por aí.
Pouco dinheiro, muita juventude, incontáveis sonhos...que se perderam sabe-lá aonde...
Depois dos meus 30 anos - incrível o poder que os 30 anos tiveram na minha vida! - começou uma revolução, quase cubana, em mim.
Foi involuntário, mas foi tão legal que deixei rolar pra ver aonde ía dar.
E deu num lugar incrível, cheio de gente que tinha muito a dizer.
Descobri que morava dentro de mim uma mulher que era capaz de dá a volta por cima. E foi o que eu fiz.
Ainda to fazendo, porque as mudanças se apoiaram em estruturas frágeis que se romperam no 3º baque. E mais uma vez me vi no marco zero...mas pra minha agradável surpresa não era tão zero assim porque tinha gente do meu lado - seletíssimas pessoas - dispostas a me dá a mão.
Não tenho amigos que frequentam minha casa, me convidam pra baladas pra encher a cara a noite toda ou me ligam 10 vezes por dia pra falar abobrinha.
Não, esse tipo de amigos definitivamente nunca fizeram parte da minha vida. Já cheguei a me lamentar por isso, me achando solitária e sem atrativos pra fazer parte de um grupo de amigos decente. Que ridículo!!!
Tenho AMIGOS! E poucas pessoas sabem o que é isso, tenho certeza.
Tenho AMIGOS que me socorreram TODAS as vezes que precisei: no desemprego, na doença do meu amado padrasto e agora no meu recomeço.
São poucos, mas são pra mim o maior tesouro, a minha fortuna.
Meus amigos e minha liberdade!
E viver sozinha me deu uma liberdade enorme.
Não preciso mais me preocupar se estou fazendo a coisa certa, falando as palavras certas, se estou apresentável, atraente, bonita o bastante...nada disso.
Não tenho ninguém pra botar a culpa se algo der errado, mas também não tenho que "aturar" ninguém querendo me tocar, me beijar quando eu não to afim.
Tem dias que eu não me aguento olhar no espelho, se pudesse saía de mim e só voltava dias depois.
Agora não tenho que aturar mal humor além do meu na TPM, lavar cueca mesmo que seja na máquina, pia do banheiro cheio de respingos de creme de barbear, prestobarba usado - eu faço depilação - passar camisas, calças sociais, juntar incontáveis pares de meia. Encarar o fogão a noite depois de um dia de trabalho porque o "malandro" tá acostumada com o jantarzinho que a mamãe fazia.
NADA DISSO ME PERTENCE MAIS!!!
Entre outras chatas coisas.
Tudo bem agora quem mata as baratas sou eu - aí que nojo - tenho que pagar por pequenos serviços de eletricista, marceneiro ou eu mesmo fazer.
Não tem mais ombros largos pra apoiar a cabeça até dormir...
Sinto falta de algumas coisas que a vida de casal proporcionava.
Mas são tão poucas diante da enorme liberdade que tenho agora que sinceramente não tá valendo a pena tentar denovo.
To feliz, tranquila e segura do que eu quero sozinha. Feliz e livre!
Nossa...que amor sincero, puro e verdadeiro esse que sinto pela minha liberdade!!!